biogr

Recortes de textos sobre o trabalho.

Estivesse Cássio Lázaro nos Estados Unidos, Europa ou Japão, sua obra seria tão conhecida como a de Calder, de César ou de Inoue. Suas Tramas, Hastes, Folhagens, Amassaduras, Cascas, Emaranhados, Esteiras, Aglomerados, Continentes, Desdobrados e Camuflagens, têm a mesma força dos Móbiles do norte-americano, das Compressões do francês, dos Moreru, jatos d’água do japonês
Ao comparar Cássio Lázaro á uma força da natureza e associar seu ateliê a um campo de batalha, não exagerei. No ateliê, no corpo a corpo com os metais, Cássio domina o aço, o ferro, o cobre. Um escultor é o que sua escultura diz. E as de Cássio Lázaro dizem muito.
Necessário é saber ouvir.

Carlos von Schmidt curador e crítico de arte 05/2007

O artista autodidata afirma que sua experiência aconteceu na prática, já que não teve acesso a informações teóricas. “Meu caminho foi longo e minhas experiências foram consistentes e intensas, por isso posso afirmar a importância do escultor executar a própria obra, sempre que tiver condições para isso. O fazer nos conduz a inúmeras possibilidades de criação, pois até quando erramos, aprendemos com o erro. Ao acompanhar todo o processo do meu trabalho, vou transformando as sobras, as rebarbas, os respingos e vejo nascer novas composições, tornando infinitas as criações… “.

O crítico Enock Sacramento segue ainda em seu texto afirmando que “Muitas de suas esculturas relacionam-se com elementos da natureza, ações, conceitos, noções abstratas. É por isso que a maioria delas recebe títulos como Corais, Afluente, Borras, Colunas, Torres, Amassados, Fragmentação, Expansão, Tensão cinética… Na série Afluentes, por exemplo, em meio a áreas de configuração textural ou de reentrâncias, destaca-se uma área lisa que percebemos como um rio. Nas esculturas desta pequena série, acontece o milagre da transformação do metal em água. Algumas lembram corais, outras, resíduos resultantes da ebulição ou infusão, chamas, cortes longitudinais de troncos. Nenhuma copia a realidade circundante. Com efeito, o artista não reproduz a realidade. Ele cria uma outra realidade que é sua obra escultórica”.

 Enock Sacramento – curador e crítico

Passaram-se 80 anos e a história dá voltas. A bolsa quebra novamente, temos Bush, fundamentalistas religiosos em todos os cantos (uma nova forma de nazismo) e uma internet tão revolucionária quanto a relatividade de Einstein.
Temos hoje um chão muito similar ao que deixou brotar o modernismo. É natural, portanto, vermos artistas com os mesmos questionamentos.
Fui no MuBE e saí de lá com a sensação de que a Semana de 22 parece não terminar nunca.
Cássio Lázaro dialoga com o urbano com a forma não-representativa, que por sua vez dialoga em si e entre si com massa e linha. A sua exposição Amassaduras, Dobraduras e Rasgaduras se insere na pólis de forma orgânica, admitindo em si a metamorfose de concreto que a cerca.
Ou seja, considerando que a cidade muda sempre e se molda em cima de sua própria decadência, a escultura que se propõe orgânica mas sem ser representativa, complementa e se permite complementar por este ciclo de vida e morte do concreto.
Falei do modernismo porque Cássio Lázaro pode ser entendido como um modernista. Ele pega a forma e a destrói, a molda de acordo com a sua interpretação da matéria, sem com isso enfraquecer o traço.

O humano, onde está necessariamente inserido o contexto da escultura, pode ser retratado de três formas: por sua presença pictórica, pelo registro de uma interferência ou por sua ausência no espaço.
As esculturas de Cássio Lázaro retratam o humano por sua ausência: é através de suas formas quase fractais que ele questiona a presença (ou não) deste humano e, conseqüentemente, de seu papel na sociedade. Novamente, reproduzindo portanto a vida-morte orgânica da cidade que acolhe e é acolhida por ele.
São esculturas grandes, de aço pintado, laqueado e oxidado que questionam o status
quo, ao destruir a forma simbólica do concretismo da nacionalidade e do poder. E isso é bom.
O ruim é que eu tinha uma certa esperança de que a história não desse tanta volta.

publicado no Aguarrás
edição 15, ano 3 – setembro & outubro de 2008, ISSN 1980-7767

Profa. Dra. Carolina Vigna Prado – crítica de arte associada à ABCA – Associação Brasileira de Críticos de Arte e membro da Association for Computers and the Humanities.

Por ser um artista de formação alternativa, Cássio nunca se acomodou em qualquer corrente artística específica. É possível, no entanto, detectar um pensamento estético afinado com a cultura visual do  Ocidente, que privilegia aspectos como simetria, equilíbrio e relações cromáticas suaves.
Existe, também, uma tendência à serialização, especialmente nas peças com dobras e cortes, onde o movimento latente é evocado pela sucessão ritmada de cheios e vazios. Outra característica é a distribuição de padrões – suas composições não costumam ter pontos focais. Ao invés disso, os volumes ou “desenhos” multiplicam-se equilibradamente por toda a superfície, ganhando potência pelo acúmulo. É como se o artista encontrasse aquilo que faz sentido para si e se apaixonasse por esse fragmento a ponto de fazê-lo ocupar todo o corpo da peça.

Sylvia Werneck – curadora e crítica

Cássio trabalha na chapa de aço como se estivesse manuseando uma folha de papel, engenhosamente sabe como explorar as várias possibilidades desse material. Projeta no aço inox, corten e carbono, releituras da casca de uma árvore, rendas, corais, tramas, ramos, papéis rasgados e amassados — feituras atemporais, originárias do seu imaginário. Usa o corte plasma, um instrumento que ele denomina tocha, com o qual derrete o metal em centenas de perfurações e fissuras, gravando desenhos queimados na superfície das chapas previamente pintadas em baixos-relevos. A cor se torna parte contida no aço e integra-se na forma de estruturas em filigranas que parecem buscar o limite da quase transparência. Cássio Lázaro continua produzindo seu trabalho na trilha curiosa e intuitiva desde sua primeira escultura em arame com o título — Irmão, de 1968. Pragmático, segue seu modo estético, escrevendo com o fogo, a solda, a dobradura e amassados a sua trama poética. É um artífice do tempo presente que permanece conjugando em suas peças elementos substanciais de densa beleza, contemplação e curiosidade. A comunicabilidade silenciosa com o outro é o que lhe interessa.

Rob Caire Silva – artista